Hidrogênio verde: estudo internacional coloca Brasil como possível líder de mercado de R$ 150 bilhões anuais

Um estudo feito pela consultoria Roland Berger indica que o Brasil poderá faturar R$ 150 bilhões por ano no mercado de hidrogênio verde (H2verde). Publicada no dia 20 de janeiro, a pesquisa Green Hydrogen Opportunity in Brazil (Oportunidade de hidrogênio verde no Brasil, em tradução livre) feita pela empresa alemã, aponta que, se o mundo cumprir os compromissos do Acordo de Paris com objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e minimizar os impactos do aquecimento global, a maior parte da energia consumida no planeta será originária do hidrogênio verde, criando assim um mercado mundial estimado em mais de US$ 1 trilhão em venda direta da molécula ou derivados.

O consumo de hidrogênio no mundo terá de aumentar pelo menos seis vezes nos próximos 30 anos para que as metas globais de descarbonização, especialmente em usos industriais e mobilidade limpa, sejam alcançadas. Sozinho, o consumo de H2verde – gerado por energia renovável ou por energia de baixo carbono – terá de passar dos atuais 90 milhões de toneladas/ano para 527 milhões de toneladas/ano a partir de 2050, produção essa que o Brasil pode liderar.

No último dia 19, a empresa EDP Brasil fez um evento de lançamento da primeira molécula de hidrogênio verde em grande escala na América Latina, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, aproveitou a ocasião para reforçar o compromisso socioambiental do governo.

“Foi muito importante estarmos aqui nesse momento para podermos reafirmar o nosso compromisso de trabalhar em parceria com iniciativa privada, com os governadores de estado, para poder registrar que estaremos numa empreitada de tornar a matriz energética cada vez mais limpa e também, principalmente, universalizar o acesso à energia para o povo mais carente da nação brasileira”, afirmou o ministro. A planta de hidrogênio do estado nordestino faz parte do Complexo do Pecém e tem investimento de R$ 42 milhões.

Como o insumo tem grande potencial na transição energética e permite acelerar a oferta de energia limpa nas estruturas em que hoje os combustíveis fósseis ainda são necessários, o governo federal pretende regular o setor o quanto antes. “Queremos este ano ainda estabelecermos um marco regulatório para que a gente possa continuar, de forma mais clara, estimulando as empresas como a EDP a poderem investir os seus recursos de EP nas pesquisas das energias limpas, e aqui, em especial, nós vemos na produção da primeira molécula de hidrogênio verde que essa é uma aposta que nós queremos acreditar e achamos que estamos no caminho certo. Vamos trabalhar para que dê certo e o marco regulatório queremos apresentar este ano para estimular a pesquisa e produção”, concluiu Silveira.

O estudo da Roland Berger assinala justamente ser necessário avaliar mecanismos de incentivos governamentais para que o Brasil tenha condições de produzir e exportar o H2verde a um preço competitivo. Para ganhar vantagem de pioneirismo nos mercados globais, o hidrogênio verde nacional precisará cair para US$ 2 por quilo até 2025. Além disso, a consultoria alemã prevê que, devido à exigência de capacidade extra, o hidrogênio verde pode representar investimentos diretos no Brasil da ordem de R$ 600 bilhões nos próximos 25 anos.

Cores do hidrogênio

Existem diversas “cores” para o hidrogênio. O hidrogênio cinza, por exemplo, é obtido a partir da queima de combustíveis fósseis, especialmente do gás natural, em uma reação conhecida como reforma a vapor. O processo envolve a reação do metano, contido no gás natural, e do vapor da água em alta pressão e temperatura. Também há o hidrogênio azul, cujo processo de produção é idêntico ao do cinza. Ambos são produzidos a partir do gás natural e permitem a captura e armazenamento do CO² emitido no processo.

Já o hidrogênio verde é produzido por meio de um processo químico (eletrólise) que permite a quebra das moléculas da água em hidrogênio e oxigênio por meio da eletricidade. O hidrogênio denominado verde é feito sem a emissão de carbono e utiliza basicamente energias renováveis (hídrica, eólica, solar e biomassa). É o único com produção sustentável e livre de carbono e é apontado como elemento chave para tornar possível a descarbonização da Terra, umas das metas fixadas pelos países de todo o mundo até 2050.

 

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